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TL;DR
Construí um MVP baratinho para rastrear gaiolas com código de barras e provar que dava para reduzir perdas e aumentar eficiência. A tecnologia funcionou, os relatórios saíram lindos… mas ninguém usou. Moral da história: no PowerPoint, tudo escala, no chão de fábrica, só escala se a operação comprar a ideia.
Dores
A operação nos acionou pedindo prioridade máxima para desenvolver uma solução completa de rastreamento de gaiolas. Transportadoras que dependem de gaiolas vivem um inferno logístico disfarçado de rotina operacional.
O pedido fazia sentido: perdas constantes, controle manual ineficiente e nenhuma visibilidade real. Mas havia um detalhe incômodo, transformar isso em um sistema robusto, com todas as camadas de autenticação, permissões e integrações, poderia consumir meses de desenvolvimento e engolir metade do time antes mesmo de sabermos se a solução teria adesão no campo.
Para não cair na armadilha de investir pesado em algo que poderia virar apenas mais uma tela ignorada, optamos por testar o essencial: um MVP de baixo custo. A ideia era validar rapidamente se o rastreamento via código de barras entregaria valor para a operação e se os operadores realmente usariam a ferramenta no dia a dia.
Se sim, ótimo! Tínhamos um caso sólido para evoluir o produto. Se não, melhor descobrir cedo, com pouco esforço e sem desperdiçar meses de engenharia.
Solução Proposta
- Rastreamento completo do ciclo de vida das gaiolas → reduz perdas.
- Controle de expedição e recebimento com vínculo a responsáveis → aumentar previsibilidade.
- Histórico detalhado de movimentações → melhorar auditoria.
- Relatórios gerenciais → embasar decisões.
- Sistema de código de barras para identificação única → agiliza operação.
Funcionalidades
1. Gestão de Funcionários
- Cadastro, edição, exclusão e reativação
- Sistema de soft delete
- Validação de duplicação: Prevenção de funcionários ativos com mesmo nome
2. Gestão de Bases Parceiras
- Cadastro, edição, exclusão e reativação
- Sistema de soft delete
- Validação de duplicação: Prevenção de bases parceiras ativas com mesmo nome
3. Gestão de Origens
- Cadastro, edição, exclusão e reativação
- Sistema de soft delete
- Validação de duplicação: Prevenção de origens ativas com mesmo nome
4. Gestão de Gaiolas
- Cadastro com códigos de barras únicos
- Exclusão e reativação
- Validação de segurança (gaiolas expedidas)
- Validação de duplicação: Prevenção de gaiolas ativas com mesmo código de barras
5. Movimentação de Gaiolas
- Expedição individual e em lote
- Recebimento de gaiolas
- Seleção de funcionário
- Registro de observações
- Histórico completo
- Validações de status
6. Relatórios e Histórico
- Relatórios de movimentações com filtros
- Histórico individual de gaiolas
- Big Numbers com métricas visuais
- Exportação CSV com formato brasileiro
- Sistema robusto com timeouts e retry
7. Notificações Slack
- Configuração de webhook do Slack
- Tempo limite configurável (1-365 dias)
- Canal customizável
- Ativação/desativação de notificações
- Verificação manual de gaiolas atrasadas
- Teste de conectividade com webhook
- Notificações organizadas por base parceira
Formato das Mensagens (Slack)
- Mensagem de Teste: Validação de webhook com emoji 🧪
- Mensagem de Alerta: Estrutura organizada por base parceira com emoji 🚨
- Informações Detalhadas: Código da gaiola, dias de atraso, funcionário responsável
- Formatação Markdown: Negrito, itálico e estrutura clara
- Call-to-Action: Instruções claras sobre o que fazer
Funcionalidades Avançadas
- Agrupamento automático por base parceira
- Cálculo preciso de dias de atraso
- Múltiplas notificações (uma por base)
- Configurações personalizáveis
- Verificação manual e automática
Stack Tecnológica
Para tirar a ideia do papel e validar rápido, montei uma stack simples e acessível. O objetivo não era construir a próxima plataforma escalável da AWS, mas sim um protótipo funcional que pudesse ser usado em campo em poucos dias. E aqui entra um ponto importante para PMs: com ferramentas atuais e editores como o Cursor, dá para desenvolver MVPs sem depender 100% do time de engenharia.
| Backend | Frontend |
|---|---|
| Framework: Flask 3.1.1 Linguagem: Python 3.11+ Banco de Dados: Supabase (PostgreSQL) ORM: Supabase Client (Python) Configuração: python-dotenv 1.0.0 | Templates: Jinja2 3.1.6 CSS: Customizado (global.css) JavaScript: Vanilla JS ES6+ Responsividade: Mobile-first |
Experiência do Usuário
Na interface, a escolha foi pelo caminho mais simples possível. Nada de telas cheias de elementos ou menus escondidos, a operação em um hub já é caótica por natureza, não precisa de mais uma camada de frustração digital. O foco foi criar uma experiência direta: botões grandes, fluxos curtos e zero firula.
A ideia era reduzir a fricção ao máximo: o operador abre, seleciona expedição ou recebimento, registra a movimentação e pronto. Sem necessidade de treinamento longo, sem curva de aprendizado, sem perder tempo procurando onde clicar.
Se o MVP tinha que validar uso em campo, fazia sentido remover qualquer obstáculo que pudesse virar desculpa para não usar.
- Interface limpa e intuitiva.
- Fluxo simples para expedição/recebimento.
- Feedback visual imediato.
- Funciona em desktop e mobile.
- Prevenção de registros duplicados (anti-flood).
- Acesso direto (sem login) para agilidade no MVP.
O resultado foi um MVP ágil, barato e suficientemente robusto para ser usado no piloto em operação real.
Objetivos por Perfil
Para Operadores
- Registro rápido de expedição/recebimento.
- Seleção simplificada de funcionário.
- Feedback claro de operações.
Para Gestores
- Visão completa do inventário.
- Relatórios detalhados e históricos.
- Controle de responsáveis e pontos de origem/destino.
Critérios de Sucesso
- Uso constante da solução pelos colaboradores da operação
- Redução de 90% na perda de gaiolas (comparativo antes/depois).
- Aumento de 80% na eficiência logística (tempo de registro e rastreio).
- Rastreabilidade total das movimentações.
- Interface aprovada por operadores (>85% satisfação em teste piloto).
O que foi feito
- Implantação piloto em operação real.
- Coleta de feedback de operadores e gestores.
- Ajustes de usabilidade e performance.










Resultados e Reflexão
No fim, o piloto durou pouco: a operação usou o app por duas semanas e depois simplesmente desengajou. Não por falha técnica ou complexidade, mas porque a vida real engoliu a iniciativa, alta demanda operacional, zero tempo para treinar gente nova e a falta de dedicar recursos humanos.
E isso ensina (ou relembra) algumas verdades incômodas sobre gestão de produtos:
- Validação barata ainda é validação: o MVP mostrou rápido que o problema não era só de rastreabilidade, mas também de adoção no dia a dia. Melhor gastar pouco para descobrir isso do que torrar meses de engenharia.
- Funcionalidade sem uso é só código morto: não basta estar alinhado ao problema no papel, é preciso que a operação tenha incentivos e capacidade real de usar.
- Métrica de entrega não paga a conta: medir apenas features entregues é inútil; impacto só aparece com uso contínuo e engajamento.
- Prioridade é sempre escolha: o tempo investido aqui foi um custo de oportunidade que poderia ter sido gasto em iniciativas com mais chance de gerar valor.
No balanço, o MVP cumpriu seu papel: mostrou rápido que a solução não estava madura para escalar. Foi barato, evitou desperdício e reforçou o valor de pensar ágil e iterativo. Melhor aprender em semanas com um protótipo simples do que gastar trimestres construindo algo que acabaria esquecido no hub.
Projeto
O projeto está disponível publicamente em:

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