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Rastreando Gaiolas: como um MVP de baixo custo revelou as barreiras reais de adoção

Tempo de leitura: 6 minutos.

TL;DR

Construí um MVP baratinho para rastrear gaiolas com código de barras e provar que dava para reduzir perdas e aumentar eficiência. A tecnologia funcionou, os relatórios saíram lindos… mas ninguém usou. Moral da história: no PowerPoint, tudo escala, no chão de fábrica, só escala se a operação comprar a ideia.

Dores

A operação nos acionou pedindo prioridade máxima para desenvolver uma solução completa de rastreamento de gaiolas. Transportadoras que dependem de gaiolas vivem um inferno logístico disfarçado de rotina operacional.

O pedido fazia sentido: perdas constantes, controle manual ineficiente e nenhuma visibilidade real. Mas havia um detalhe incômodo, transformar isso em um sistema robusto, com todas as camadas de autenticação, permissões e integrações, poderia consumir meses de desenvolvimento e engolir metade do time antes mesmo de sabermos se a solução teria adesão no campo.

Para não cair na armadilha de investir pesado em algo que poderia virar apenas mais uma tela ignorada, optamos por testar o essencial: um MVP de baixo custo. A ideia era validar rapidamente se o rastreamento via código de barras entregaria valor para a operação e se os operadores realmente usariam a ferramenta no dia a dia.

Se sim, ótimo! Tínhamos um caso sólido para evoluir o produto. Se não, melhor descobrir cedo, com pouco esforço e sem desperdiçar meses de engenharia.

Solução Proposta

  • Rastreamento completo do ciclo de vida das gaiolas → reduz perdas.
  • Controle de expedição e recebimento com vínculo a responsáveis → aumentar previsibilidade.
  • Histórico detalhado de movimentações → melhorar auditoria.
  • Relatórios gerenciais → embasar decisões.
  • Sistema de código de barras para identificação única → agiliza operação.

Funcionalidades

1. Gestão de Funcionários

  • Cadastro, edição, exclusão e reativação
  • Sistema de soft delete
  • Validação de duplicação: Prevenção de funcionários ativos com mesmo nome

2. Gestão de Bases Parceiras

  • Cadastro, edição, exclusão e reativação
  • Sistema de soft delete
  • Validação de duplicação: Prevenção de bases parceiras ativas com mesmo nome

3. Gestão de Origens

  • Cadastro, edição, exclusão e reativação
  • Sistema de soft delete
  • Validação de duplicação: Prevenção de origens ativas com mesmo nome

4. Gestão de Gaiolas

  • Cadastro com códigos de barras únicos
  • Exclusão e reativação
  • Validação de segurança (gaiolas expedidas)
  • Validação de duplicação: Prevenção de gaiolas ativas com mesmo código de barras

5. Movimentação de Gaiolas

  • Expedição individual e em lote
  • Recebimento de gaiolas
  • Seleção de funcionário
  • Registro de observações
  • Histórico completo
  • Validações de status

6. Relatórios e Histórico

  • Relatórios de movimentações com filtros
  • Histórico individual de gaiolas
  • Big Numbers com métricas visuais
  • Exportação CSV com formato brasileiro
  • Sistema robusto com timeouts e retry

7. Notificações Slack

  • Configuração de webhook do Slack
  • Tempo limite configurável (1-365 dias)
  • Canal customizável
  • Ativação/desativação de notificações
  • Verificação manual de gaiolas atrasadas
  • Teste de conectividade com webhook
  • Notificações organizadas por base parceira

Formato das Mensagens (Slack)

  • Mensagem de Teste: Validação de webhook com emoji 🧪
  • Mensagem de Alerta: Estrutura organizada por base parceira com emoji 🚨
  • Informações Detalhadas: Código da gaiola, dias de atraso, funcionário responsável
  • Formatação Markdown: Negrito, itálico e estrutura clara
  • Call-to-Action: Instruções claras sobre o que fazer

Funcionalidades Avançadas

  • Agrupamento automático por base parceira
  • Cálculo preciso de dias de atraso
  • Múltiplas notificações (uma por base)
  • Configurações personalizáveis
  • Verificação manual e automática

Stack Tecnológica

Para tirar a ideia do papel e validar rápido, montei uma stack simples e acessível. O objetivo não era construir a próxima plataforma escalável da AWS, mas sim um protótipo funcional que pudesse ser usado em campo em poucos dias. E aqui entra um ponto importante para PMs: com ferramentas atuais e editores como o Cursor, dá para desenvolver MVPs sem depender 100% do time de engenharia.

BackendFrontend
Framework: Flask 3.1.1
Linguagem: Python 3.11+
Banco de Dados: Supabase (PostgreSQL)
ORM: Supabase Client (Python)
Configuração: python-dotenv 1.0.0
Templates: Jinja2 3.1.6
CSS: Customizado (global.css)
JavaScript: Vanilla JS ES6+
Responsividade: Mobile-first

Experiência do Usuário

Na interface, a escolha foi pelo caminho mais simples possível. Nada de telas cheias de elementos ou menus escondidos, a operação em um hub já é caótica por natureza, não precisa de mais uma camada de frustração digital. O foco foi criar uma experiência direta: botões grandes, fluxos curtos e zero firula.

A ideia era reduzir a fricção ao máximo: o operador abre, seleciona expedição ou recebimento, registra a movimentação e pronto. Sem necessidade de treinamento longo, sem curva de aprendizado, sem perder tempo procurando onde clicar.

Se o MVP tinha que validar uso em campo, fazia sentido remover qualquer obstáculo que pudesse virar desculpa para não usar.

  • Interface limpa e intuitiva.
  • Fluxo simples para expedição/recebimento.
  • Feedback visual imediato.
  • Funciona em desktop e mobile.
  • Prevenção de registros duplicados (anti-flood).
  • Acesso direto (sem login) para agilidade no MVP.

O resultado foi um MVP ágil, barato e suficientemente robusto para ser usado no piloto em operação real.

Objetivos por Perfil

Para Operadores

  • Registro rápido de expedição/recebimento.
  • Seleção simplificada de funcionário.
  • Feedback claro de operações.

Para Gestores

  • Visão completa do inventário.
  • Relatórios detalhados e históricos.
  • Controle de responsáveis e pontos de origem/destino.

Critérios de Sucesso

  • Uso constante da solução pelos colaboradores da operação
  • Redução de 90% na perda de gaiolas (comparativo antes/depois).
  • Aumento de 80% na eficiência logística (tempo de registro e rastreio).
  • Rastreabilidade total das movimentações.
  • Interface aprovada por operadores (>85% satisfação em teste piloto).

O que foi feito

  1. Implantação piloto em operação real.
  2. Coleta de feedback de operadores e gestores.
  3. Ajustes de usabilidade e performance.

Resultados e Reflexão

No fim, o piloto durou pouco: a operação usou o app por duas semanas e depois simplesmente desengajou. Não por falha técnica ou complexidade, mas porque a vida real engoliu a iniciativa, alta demanda operacional, zero tempo para treinar gente nova e a falta de dedicar recursos humanos.

E isso ensina (ou relembra) algumas verdades incômodas sobre gestão de produtos:

  • Validação barata ainda é validação: o MVP mostrou rápido que o problema não era só de rastreabilidade, mas também de adoção no dia a dia. Melhor gastar pouco para descobrir isso do que torrar meses de engenharia.
  • Funcionalidade sem uso é só código morto: não basta estar alinhado ao problema no papel, é preciso que a operação tenha incentivos e capacidade real de usar.
  • Métrica de entrega não paga a conta: medir apenas features entregues é inútil; impacto só aparece com uso contínuo e engajamento.
  • Prioridade é sempre escolha: o tempo investido aqui foi um custo de oportunidade que poderia ter sido gasto em iniciativas com mais chance de gerar valor.

No balanço, o MVP cumpriu seu papel: mostrou rápido que a solução não estava madura para escalar. Foi barato, evitou desperdício e reforçou o valor de pensar ágil e iterativo. Melhor aprender em semanas com um protótipo simples do que gastar trimestres construindo algo que acabaria esquecido no hub.

Projeto

O projeto está disponível publicamente em:

ℹ️ https://github.com/utinside/rastreamento-gaiolas

Publicado emProjetos

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